Mais uma temporada de verão se inicia com relatos de criminosos enganando veranistas que negociam o aluguel de casas pela internet. O golpe do aluguel fez ao menos 19 vítimas até o final de semana do Natal.
De acordo com a titular da delegacia regional do Litoral, Sabrina Deffente, há registro de casos nas cinco principais praias do Litoral Norte. Capão da Canoa, Xangri-lá, Torres, Imbé e Tramandaí são os principais destinos de quem acredita ter reservado uma residência realizando depósito antecipado. Quando chegam ao local, os veranistas percebem que o anúncio era mentiroso.
— A dica é que busquem alugar de conhecidos ou com empresas certificadas que trabalham com isso, como imobiliárias. Uma pesquisa em aplicativos ou imobiliárias da cidade também ajuda a verificar se a casa não está sendo anunciada para venda ou até mesmo aluguel por outra pessoa ou até preço diverso. Caso alugue de desconhecido, uma visita até o imóvel ou pedir para alguém ir no local e confirmar se a casa existe antes de fazer o depósito reduz o risco de golpe — explica Sabrina.
Antes mesmo da alta temporada, Dhara Borges, 26 anos, moradora de Jaquirana, na Serra, pensou ter alugado uma casa em Arroio do Sal em outubro para passar o feriadão de Nossa Senhora Aparecida com a mãe, o padrasto e a filha pequena. Havia encontrado o anúncio em um grupo do Facebook. Chegando na cidade na data marcada e com pagamento feito com depósito antecipado, o suposto locatário parou de responder. Não forneceu endereço nem localização da casa, não atendeu aos telefonemas e bloqueou o contato de Dhara. Foi aí que ela percebeu que se tratava de um golpe.
— A vontade era de chorar. Sorte que tínhamos conhecidos na cidade e nos ajudaram. Foi um aprendizado para não depositar mais dinheiro sem conhecer a pessoa e a casa — relembra.
Eva Teixeira, 60, moradora de Caxias do Sul, conta que descobriu o golpe antes de ir até a praia, mas depois de ter feito o depósito pedido pelos golpistas. A casa ideal para ela, o marido, o filho e a nora era na praia de Âncora, perto de Arroio do Sal, entre o dia 2 e o dia 7 de janeiro, em uma oferta encontrada também em um grupo na rede social.
A aposentada diz que começou a suspeitar quando o Pix de destino do depósito era em nome de uma mulher, supostamente esposa do locatário. Desconfiada, a nora entrou em contato com o golpista fingindo ter interesse na casa e pedindo para alugar na mesma data que a família. Ela recebeu a oferta para locar o imóvel que Eva acreditava já ter reservado.
— O locatário dizia ter vários tipos de imóveis disponíveis para todas as datas que outras pessoas perguntavam no grupo. Comecei a ficar um pouco desconfiada, mas as fotos e o tratamento dele me pareciam confiáveis. Pediu para fazer contrato, dizendo que era para a segurança dos dois lados do negócio. Pagamos um Pix no nome da mulher dele. Comentei com minha nora e ela fez um teste. Ligou para ele pedindo uma casa para as mesmas datas, sem se identificar como minha parente. E ele mostrou as mesmas fotos da casa que tinha alugado para mim — relata a caxiense.
Registrar a ocorrência é essencial
Muitas vítimas não fazem boletim de ocorrência, o que impede que os casos cheguem ao conhecimento da Polícia Civil. Sem os registros, a delegacia de cada cidade não tem noção de quantos casos do crime aconteceram. Isso gera um ambiente propício a impunidade dos criminosos.
— Todos os anos temos casos, mas nesta semana ainda não temos muitos. O boletim de ocorrência serve para termos uma estatística, compilarmos os dados e organizarmos a estratégia para identificar e punir os autores — alerta o delegado de Arroio do Sal, Adriano Koehler, município onde Dhara registrou boletim de ocorrência.
Os registros podem demorar para chegar até a delegacia competente pela investigação, tendo em vista que os boletins de ocorrência podem ser feitos na cidade de origem da vítima ou na delegacia virtual.
Em Torres, por exemplo, são três casos já registrados do estelionato. Com o boletim de ocorrência, o inquérito pode ser aberto para o crime ser investigado.
— É um combate complicado, pois envolve pessoas de vários lugares do Estado e até do país, além de depender do registro de ocorrência por parte da vítima, que muitas vezes está fragilizada. Uma das ocorrências registradas mostrou uma família que negociou o aluguel em junho, depositou o valor aos golpistas e começou a se preparar para a viagem do final de ano. Esta semana, às vésperas do Natal, chegou aqui e viu que não tinha casa — detalha a delegada Elaine Schons, titular da DP de Torres.
Como agem os golpistas
- Golpistas podem tanto criar falsos anúncios, com fotos de imóveis que não existem, quanto podem usar fotos de um verdadeiro
- Em geral, pedem a antecipação de cerca 50% do valor ou de uma diária, afirmando que é a forma de garantir a reserva ou elaborar o contrato
- Os depósitos são realizados em nome de laranjas, outras pessoas que não o próprio locatário
Dicas para não ser uma vítima
- Se alugar diretamente com o proprietário, coloque no orçamento uma visita antecipada ao imóvel. Não alugue nada sem ter certeza de que está em contato com o dono do imóvel
- As fotografias não são garantia de que o imóvel existe ou de que está nas mesmas condições do anúncio. Uma visita ou até mesmo ligação por vídeo pode ser alternativa de ver o imóvel com mais precisão
- Pedir a metade do valor como entrada é uma estratégia comum entre esses golpistas, mas também entre locatários comuns. A diferença é que o estelionatário costuma ter pressa para receber e garantir o sucesso do golpe. Fique atento a esse comportamento e desconfie
- Alugar diretamente com imobiliárias ou corretores certificados com registro no Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-RS) é uma das dicas para ter maior garantia sobre a negociação
Fonte: Polícia Civil
Edição: GZH