Embora o litoral norte já possua agroindústrias com práticas de processamento exemplares, canais de comercialização bem estabelecidos e a maior quantidade de agroflorestas certificadas no Rio Grande do Sul, expandir a produção de frutas da Mata Atlântica na região ainda é uma oportunidade a ser explorada. Transformar essa oportunidade em realidade atrativa para mais famílias agricultoras requer a superação de certos obstáculos, os quais foram discutidos durante o Encontro Local da Cadeia de Frutas Nativas em 10 de agosto, na sede da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais e Urbanas (AMTRU), em Três Cachoeiras.
O encontro reuniu representantes de agroindústrias, cooperativas e órgãos governamentais, juntamente com agricultoras e agricultores que já cultivam açaí de juçara e butiá em sistemas agroflorestais (SAFs). A experiência com essas frutas serviu como referência para identificar os principais obstáculos e planejar soluções.
No contexto da cadeia produtiva do açaí de juçara, o primeiro ponto abordado foi a falta de mão de obra para a colheita. A solução proposta começa pela identificação, por parte das próprias famílias que possuem palmeiras, de filhos e filhas interessados em receber treinamento para integrar a equipe coordenada por Leonel Gauer na próxima safra, com foco na segurança do trabalho. “A segurança é primordial, especialmente para aqueles que precisam subir em escadas ou usar outros equipamentos”, destaca Gauer.
Vitor Gonçalves Flores, um possível futuro membro dessa equipe, já participou da colheita tanto nesta safra como na passada, dos frutos das palmeiras juçara na propriedade da família em Três Forquilhas. O dinheiro obtido com a venda dos produtos foi investido no pagamento da faculdade. Maria Inês Gonçalves Flores, mãe de Vitor, compartilha emocionada: “Fiquei emocionada ao ver que ele usaria o dinheiro do açaí (de juçara) para pagar pelos estudos. A juçara se tornando um caminho para a faculdade”.
Gauer também ressaltou a importância de divulgar o preço atual pago por quilo do fruto. Quando colhido pela família Gonçalves Flores, por exemplo, rende o dobro. Anelise Becker, representante da agroindústria Morro Azul, explica: “A agroindústria Morro Azul paga R$ 4 reais pelo quilo do açaí quando adquirido diretamente. Quando a agroindústria precisa realizar a colheita, o quilo é comprado por R$ 2 reais. Isso envolve R$ 2 reais para o fruto e R$ 2 reais para a mão de obra”.
Viveiros de mudas
Também no contexto do açaí de juçara, um outro obstáculo que já possui uma solução encaminhada é a multiplicação de mudas mais desenvolvidas em viveiros nas propriedades das famílias Fernandes, Becker Vieira, Martins da Rosa, Gauer e Moschen, Cardoso Martins, além da aldeia Sol Nascente em Osório.
Juçara e banana
Em relação à percepção de que as palmeiras poderiam atrapalhar a produção de bananas devido ao tempo que levam para dar frutos e a possibilidade de causar mais trabalho na propriedade, o experiente agricultor Nilson Bittercourt assegura que isso não é um problema. “Às vezes, o agricultor pode obter um rendimento maior com açaí do que com bananas, especialmente em situações de vento, por exemplo. Não importa se leva seis anos”.
PGPMBio e certificação
Durante a parte da manhã e início da tarde, Diego Bloedow, assistente de operações na Superintendência Regional da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), explicou como acessar a Política de Preços Mínimos para Produtos da Sociobiodiversidade (PGPMBio). Ele ressaltou que o processo não é excessivamente burocrático e é relativamente simples em relação à documentação necessária. Conforme mencionado por Bloedow, o site da Conab fornece todas as orientações para quem deseja se integrar a este e outros programas governamentais.
Clara Liberato, representante da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema/RS), discorreu sobre a evolução dos processos de licenciamento e a importância da certificação, que oferece um respaldo tanto para os agricultores quanto para as agricultoras que estão gerenciando as agroflorestas. Ela apresentou o selo de Manejo Certificado Agrofloresta, que poderá ser aplicado na produção de banana, açaí de juçara, butiá e outros produtos provenientes de SAFs certificados.
Fonte: Ascom Centro Ecológico
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