O Rio Grande do Sul amanheceu no feriado de 1º de maio com um decreto de calamidade pública em todo o Estado, devido às chuvas intensas, alagamentos, granizo, inundações, enxurradas e vendavais que começaram em 24 de abril, causando perdas de vidas, destruição de moradias, estradas e pontes, além de prejudicar o funcionamento de instituições públicas e interditar vias.
Diante desse cenário, a solidariedade mobilizou muitas pessoas a colaborarem de alguma forma para aliviar o sofrimento alheio. Vários moradores de Torres se deslocaram para as áreas mais afetadas, levando doações e, mais importante, oferecendo apoio emocional e físico às vítimas.
AÇÕES DOS BALONISTAS
O presidente da Federação Gaúcha de Balonismo, Rogério Daitx, e outros balonistas estiveram nas cidades de Canoas, Muçum e Roca Sales. Alguns já partiram no domingo (5), ajudando no resgate de pessoas e animais em Canoas, região metropolitana. Na terça-feira (7), os balonistas formaram grupo maior com 20 caminhonetes e foram a Muçum, a cerca de 300 km de Torres, onde distribuíram kits de alimentação rápida, cestas básicas, kits de higiene pessoal, de limpeza e água.
Na quarta-feira (8), Roca Sales, a 21 km de Muçum, também recebeu kits de limpeza entregues porta a porta. “O colorido dos balões deu lugar a dias de muita tristeza aqui no RS, mas sabendo que poderíamos levar um pouco de dignidade ao nosso povo, não medimos esforços. Encontramos olhares quase perdidos, sem muita esperança, que se davam lugar às lágrimas muitas vezes”, contou Daitx.
Daitx conta que convocou os pilotos que participariam do 34º Festival Internacional de Balonismo, cancelado devido às enchentes, a promoverem o Balonismo Solidário. “Tivemos muitos adeptos e muitas pessoas se juntaram para fazermos uma parte do muito trabalho que ainda tem pela frente. As caminhonetes, dessa vez, resgataram a esperança ao invés dos balões”, declarou Daitx.
OUTRAS INICIATIVAS
O premiado piloto torrense João do Balão também participou, sentindo-se chamado por Deus a ajudar. Lançou uma vaquinha online que arrecadou R$ 108 mil para a compra de donativos. João deixou Torres no dia 5 de maio, retornou brevemente e voltou para as regiões mais afetadas, utilizando seu perfil no Instagram @joaodobalao para destacar necessidades urgentes, como materiais de limpeza, higiene, comida, água e assistência a família soterrada.
João relata que a região enfrenta sua terceira enchente, com muitas perdas e a constante pergunta de como recomeçar. Junto com seu amigo Marcelinho Despachante, busca levar esperança, especialmente às crianças, enfrentando noites escuras, sem banho quente e com medo da chuva.
Outro grupo de voluntários de Torres, composto por Gustavo Coelho e mais quatro pessoas, foi a Porto Alegre para ajudar nos resgates com o grupo da Marina Paulo Prates. Com equipamentos como lancha, jet ski e coletes, o grupo auxiliou em bairros da capital desde quinta-feira (9). Gustavo relatou a resistência de algumas pessoas em deixarem suas casas por medo de roubos, mesmo com a água alcançando portões e janelas.
“O que mais me impressionou foi a altura da água. Em locais como o bairro Humaitá, cobria carros e casas. A sujeira da água, o cheiro, o cenário eram extremamente chocantes, algo de filme, inimaginável”, descreveu Gustavo. Ele também destacou a mobilização de muitas pessoas para ajudar, mostrando um forte sentimento de humanidade.
O casal Andrine Espíndola e Rafael Gomes também deixou o conforto de seu lar em Torres para auxiliar as famílias atingidas pelas enchentes em Porto Alegre. Andrine conta que a decisão de ir ajudar se deu pois sentiu como se fosse com ela.
“Eu senti na pele, como se fosse a minha casa. Só de lembrar, eu me emociono, porque é o meu estado, são pessoas da nossa gente, é o nosso povo. Muitas vezes, são amigos, parentes, e mesmo que não sejam, são pessoas. Isso me motivou muito a ir”, relata Andrine.
Rafael também esteve em Canoas no final de semana, atuando como resgatista junto com alguns amigos, utilizando jet-skis e uma caminhonete 4×4. Ele entrou na água, resgatou pessoas e animais, e descreve que ficou muito chocado com a destruição e o cheiro forte da água.
Na semana seguinte, o casal esteve na cidade de Estrela, onde se depararam com uma destruição inimaginável.
“Para onde a gente olhava era um campo plano, não tinha mais nada. Conversando com as pessoas enquanto entregávamos os mantimentos, eles diziam: ‘Aqui era minha casa, ali na frente era a casa do meu filho’. E olhando para aquele cenário, não se via nada. Não dava para acreditar que ali existia uma comunidade. Não tinha casa nenhuma, estavam sem nada”, relata Andrine.
O casal entregou kits de higiene pessoal e de limpeza, pois os moradores não tinham nada. A cada entrega, ouviam relatos dos moradores lamentando a perda de tudo o que tinham acabado de reconstruir após as enchentes de setembro de 2023.
Andrine descreveu que bairros inteiros, com toda a infraestrutura, não existiam mais, eram apenas campos devastados.
“Quantas histórias, quantas alegrias, uma vida inteira de trabalho de uma família, tudo se foi, deixando para trás rastros de memórias, como brinquedos, alguns móveis e muito lodo”, desabafa Andrine emocionada.
Rogério, João, Gustavo, Andrine e Rafael.. entre tantos outros voluntários, representando a força da solidariedade, levando esperança e apoio para os gaúchos que precisam reconstruir seus lares, suas memórias e seguir em frente.
OUTRAS FOTOS DOS VOLUNTÁRIOS
Fotos: FABIANO PEREIRA / ANA CAROLINE MARTINS / ROGÉRIO DAITX / JOÃO DO BALÃO
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