Moradores compartilham preocupações sobre infraestrutura e limpeza, pedindo mais atenção da gestão municipal.
Com a aproximação do feriado de Finados, que será celebrado amanhã, 2 de novembro, sábado, o Cemitério Municipal no Campo Bonito está recebendo ao longo da semana serviços de manutenção e limpeza. Esses cuidados são essenciais para preparar o local para a chegada de centenas de famílias que visitarão os entes queridos, tanto na véspera quanto na data do feriado.
Na última terça-feira, dia 29, a equipe do Jornal do Mar e da Rádio Maristela visitou o Cemitério Municipal do Campo Bonito. Durante essa visita, foi possível observar um significativo movimento de famílias dedicadas a realizar a limpeza de túmulos, além de funcionários de uma empresa terceirizada, que presta serviços à Prefeitura para trabalhos de manutenção no Cemitério Municipal durante todo o ano. Entre as atividades realizadas estão capina, poda de árvores, varrição completa, coleta de resíduos e pintura de meio-fio, tudo visando manter o local em boas condições para os visitantes.
Torres conta com um único cemitério municipal, o do Campo Bonito, que abriga 4.841 sepulturas e 425 capelas e possui cerca de 80 anos de história. Os outros cinco cemitérios no município são comunitários: Cemitério São Brás mantido por uma Associação de Amigos; Cemitério Nossa Senhora Aparecida no Jacaré, também mantido por uma Associação de Amigos; Cemitério Católico Nossa Senhora de Fátima na comunidade de Barro Cortado; Cemitério Católico Nossa Senhora da Glória na Pirataba e o Cemitério Luterano na Vila Lottermann.
Durante a visita da reportagem, a família do Igra Sul, composta pelos irmãos Jair Santos e Solange da Silva Santos, acompanhados do esposo de Solange, Moacir da Silva Ramos, compartilharam que todos os anos eles dedicam um tempo na semana que antecede o feriado de Finados para realizar a manutenção da capela da família. Segundo eles, muitas melhorias foram feitas no Cemitério Municipal Campo Bonito nos últimos anos, mas ainda há diversas ações que o poder público deve implementar para proporcionar melhores condições aos visitantes, não apenas na data de Finados, mas ao longo do ano.
“Quando visitamos os túmulos de nossa família durante o inverno, a vegetação está sempre alta e, neste ano, devido à intensa chuva, formaram-se valetas com as fortes chuvas, trazendo muita terra e criando riscos de danificar as estruturas das capelas e sepulturas”, explica Jair, expressando sua preocupação com a ausência de um sistema adequado de escoamento para as águas da chuva.
Outras melhorias que a família Santos sugere incluem a melhoria do acesso principal ao cemitério, que, segundo eles, é uma estrada muito esburacada e carece de sinalização adequada, tanto para quem vem pela Estrada do Mar quanto pela BR 101. Além disso, solicitam uma melhor sinalização das ruas internas, o que facilitaria a localização dos jazigos e túmulos. A canalização de água em todas as ruas também é uma necessidade urgente, visto que atualmente a água é disponibilizada apenas em alguns pontos por meio de reservatórios, e as pessoas precisam transportá-la utilizando baldes.
“Além disso, falta um embelezamento geral do cemitério. O cemitério de Santa Rosa do Sul, em Santa Catarina, possui todas essas melhorias e ainda é um lugar gramado, com flores e calçadas em boas condições, o que o torna um ambiente bonito e acolhedor. Afinal, nossos familiares estão aqui, e nós também, um dia viremos para cá. É a lei natural da vida. Eu desejo um ambiente agradável, e não um que pareça abandonado”, afirma Solange.
Da comunidade da Vila São João, as irmãs Solange Gobbi e Regina Gobbi também estavam realizando a limpeza da capela da família, localizado na área mais central do Cemitério Municipal. Elas esperavam encontrar o local em melhores condições. O que mais chamava a atenção delas era o acúmulo de terra em torno da capela, trazido pelas chuvas.
“Aqui atrás, não se vê mais calçada nem escadaria, apenas barro e mato. Isso demonstra que, desde as chuvas intensas de maio e junho, não houve manutenção no local. Esse tipo de limpeza é extremamente pesado para nós, e o município precisa garantir esse trabalho não apenas na véspera de Finados”, desabafa Solange.
Entre as principais demandas da família Gobbi, estão a necessidade de água encanada, energia elétrica para o uso de lava-jato, capina, um adequado sistema de escoamento das águas da chuva e jardinagem. Eles esperam que o novo governo municipal preste a devida atenção ao Cemitério Municipal, garantindo assim um local digno e respeitoso para a memória de seus entes queridos.
GESTÃO MUNICIPAL
Atualmente, a prefeitura municipal, por meio da secretaria municipal de Administração e Atendimento ao Cidadão, administra exclusivamente o Cemitério Municipal do Campo Bonito. A principal orientação da administração é o cuidado com a prevenção da dengue, e a Vigilância Sanitária realiza fiscalização no local a cada duas semanas, durante todo o ano.
De acordo com a gestão municipal, para garantir um ambiente limpo e adequado para as famílias, dois funcionários de uma empresa terceirizada mantêm a limpeza do cemitério. Estão em andamento reformas nos banheiros, e a capela mortuária histórica também está sendo revitalizada, permitindo que as famílias realizem velórios no local, caso optem por isso.
Para contato, os cidadãos podem ligar para a prefeitura pelo telefone (51) 3626-9150, ramal 207 ou enviar e-mail para o endereço [email protected].
Em relação às demandas citadas pelas famílias Santos e Gobbi, quanto ao abastecimento de água, o Cemitério Municipal é atendido por uma rede da Corsan, mas a pressão da água não é constante, o que dificulta o enchimento das caixas d’água em determinados momentos do dia, inviabilizando, até o momento, melhorias nesse aspecto.
A sinalização no cemitério, segundo a Prefeitura, é adequada, com placas indicando os números das ruas e talhões para facilitar a localização das sepulturas. Além disso, um zelador está à disposição para auxiliar as famílias na busca por seus entes queridos. Nos últimos anos, o Cemitério Municipal tem recebido melhorias contínuas, embora nem todas as manutenções necessárias tenham sido concluídas.
Outra benfeitoria foi criada no Cemitério Municipal, por meio do decreto municipal nº 151/2022, instituindo o “Jardim Quimbandeiro-Guardiões da Calunga”, um espaço destinado a rituais e oferendas das casas de religiões de matriz africana O espaço conta com ajardinamento, um pequeno altar e bancos para descanso e meditação.
Essa iniciativa normatiza as ações das casas dentro do cemitério, permitindo que, por meio de agendamento, realizem seus rituais no Jardim, democratizando o uso do cemitério para práticas ritualísticas religiosas.
No dia 02 de novembro, as missas serão na igreja Santa Luzia, às 18h, e na igreja São Domingos, às 16h. Também durante todo o dia ocorrerão manifestações no espaço “Jardim Quimbandeiro-Guardiões da Calunga”, destinado a rituais e oferendas das casas de religiões de matriz africana 10h30min no Cemitério Municipal Campo Bonito.
OS CEMITÉRIOS INICIAIS DE TORRES
O primeiro cemitério de Torres, conforme registros do historiador e jornalista Nelson Adams Filho, estava localizado na Itapeva. É na Itapeva que Torres vai nascer! O período de registros abrange de 1770/80 a 1826. Embora o local exato ainda não tenha sido encontrado, há diversos registros de sepultamentos. Narciso, primeiro filho do Alferes Manoel Ferreira Porto e sua esposa Jerônima, foi sepultado ali aos 2 anos, por volta de 1810, apesar de o alferes já estar residindo em Torres, em sua casa na encosta do morro do Farol.
Além de Narciso, também estão sepultados membros das famílias Martins e Rocha, pioneiros de Torres. O soldado Alexandre Silveira, da Guarda e Registro das Torres, que existiu entre 1770 e 1801, sepultou dois filhos, Inácio e Ludovico. Esses registros, segundo o historiador Ruy Ruben Ruschel, estão no Livro de Óbitos da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Arroio, em Osório.
O segundo cemitério, conhecido como “da Capela”, foi ativado a partir de maio de 1826 e localiza-se ao lado Sul da Casa Nº 1, em um espaço entre o muro do prédio da antiga Escola Cenecista (prédio do Marcílio Dias) e a rua paralela à rua Padre Lomônaco, na direção Leste-Oeste. Este cemitério esteve em atividade até cerca de 1880/86. Existe um Livro de Registro dos Óbitos entre 1826 e 1859, com um total de 288 sepultamentos, sendo mais da metade de crianças entre 0 a 6 anos, vítimas do Mal da Terra, a verminose. O segundo Livro de Registros, referente ao período de 1859 a 1880, foi perdido. O Alferes Manoel Ferreira Porto também está sepultado nesse cemitério, além de vários imigrantes alemães. Os registros desses sepultamentos estão no Livro de Óbitos no acervo documental na Cúria Diocesana em Osório. Atualmente, a área deste cemitério está em fase de prospecção arqueológica.
Os chamados “terceiros” cemitérios de Torres, “do Morro do Farol” e “das Areias”, existiram quase simultaneamente. O do Morro do Farol foi o primeiro, em atividade de 1880 a 1897, conforme relatos militares. O cemitério “das Areias”, localizado na esquina da rua Cruzeiro do Sul com a rua Padre Lomônaco, esteve em funcionamento no final do século XIX até cerca de 1910/15, quando foi coberto pelas areias. Nele, por exemplo, está sepultado o pai do coronel Pacheco. Devido à impossibilidade de uso causada pelas areias, o cemitério do Morro do Farol passou a ser o único utilizado em Torres.
O quarto cemitério, “do Morro do Farol”, teve plena atividade entre o final do século XIX e 1960, quando foi desativado, dando lugar ao atual Cemitério do Campo Bonito.
De acordo com Nelson, é importante destacar que além desses cemitérios, existia o da então Colônia São Pedro, a partir de aproximadamente 1840/45. Em 1845, a igreja de Nossa Senhora do Amparo já estava em construção e uso, tendo recebido doação do Imperador Pedro II durante sua passagem por Porto Alegre, no encerramento da Guerra dos Farrapos. Há também o Cemitério Luterano de Três Forquilhas, que provavelmente começou a ser utilizado a partir de 1827/28, pois os colonos alemães foram transferidos para lá apenas em agosto de 1827, embora já tivessem chegado às Torres em novembro de 1826. Os demais cemitérios de Torres surgiram no século XX.
Nelson Adams Filho dedica sua pesquisa sobre os cemitérios em uma coleção intitulada “História de Torres”, volumes 4 e 5, publicações da Edigal e Super Livros.
DIA DE FINADOS
O Dia dos Finados tem como objetivo principal relembrar a memória dos falecidos, dos entes queridos que já se foram, e, consequentemente, rezar por eles.
Desde a época do cristianismo primitivo, os cristãos rezavam por seus mortos, especialmente pelos mártires, nos locais onde frequentemente eram enterrados: nas catacumbas subterrâneas da cidade de Roma. A oração pelos que já morreram é uma prática de várias religiões, que o cristianismo manteve. Documentos e monumentos dos primeiros séculos da nossa era já testemunham essa prática entre os cristãos. Há túmulos cristãos dos séculos II e III que trazem orações pelos falecidos ou inscrições como: “Que cada amigo que veja isso reze por mim.”
O costume de rezar pelos mortos foi sendo introduzido paulatinamente na liturgia da Igreja Católica. O principal responsável pela instituição de uma data específica dedicada às almas dos mortos foi o monge beneditino Odilo da Abadia Beneditina de Cluny, na França.
Odilo (962-1049) tornou-se abade de Cluny, uma das principais abadias da Idade Média, responsável por importantes reformas no clero durante a Baixa Idade Média. Em 2 de novembro de 998, Odilo instituiu aos membros de sua abadia e a todos que seguiam a Ordem Beneditina a obrigatoriedade de rezar pelos mortos. A partir do século XII, essa data popularizou-se em todo o mundo cristão medieval como o Dia de Finados.
Apesar do processo de secularização e laicização pelo qual o mundo ocidental tem passado desde a entrada da modernidade, o dia 2 de novembro ainda é identificado como um dia específico para meditar e rezar pelos mortos.
MELISSA MACIEL
>> Receba as notícias da Maristela sobre o Litoral Norte gaúcho e o Sul catarinense no seu WhatsApp! Clique aqui e fique bem informado.