Em referência à campanha de prevenção ao suicídio, o Setembro Amarelo, psiquiatra explica como identificar os sinais de sofrimento mental e destaca tratamentos de ponta para casos resistentes.
Em um apelo pela conscientização durante o Setembro Amarelo, o médico psiquiatra e psicoterapeuta Dr. Luis Felipe Jardim, especialista em depressão resistente, falou a Rádio Maristela sobre um tema de extrema urgência: a saúde mental. A entrevista na segunda-feira (29) destacou a importância de quebrar o estigma, identificar sinais de alerta e conhecer as opções de tratamento que vão além do convencional, podendo salvar vidas.
OUVIR E QUEBRAR O ESTIGMA
O especialista ressaltou que a dificuldade em falar sobre saúde mental é uma das maiores barreiras para o tratamento. Muitas vezes, o medo de ser estigmatizado impede que a pessoa procure ajuda. “O primeiro passo é a gente conseguir ouvir a pessoa que está proferindo ou dando sinais de sofrimento mental”, afirmou o Luis Felipe, explicando que validar os sentimentos de quem sofre é fundamental.
Ele enfatizou que a depressão não é “preguiça” ou “falta de vontade”, mas sim uma doença cerebral. “É quando o cérebro, realmente, para de funcionar de forma adequada”, pontuou.
SINAIS DE ALERTA
Segundo o médico, mudanças de comportamento são o principal indicativo de que algo não vai bem. É preciso estar atento a pessoas que, antes ativas e sociáveis, passam a apresentar um ou mais dos seguintes sinais:
- Isolamento: Afastam-se de amigos, familiares e de atividades que antes gostavam.
- Mudança de humor: Tornam-se mais introspectivas, tristes, pessimistas ou irritadiças.
- Falta de energia e desânimo: Apresentam cansaço constante e perda de interesse geral.
- Alterações no sono: Podem desenvolver insônia ou, ao contrário, dormir em excesso.
- Discursos pessimistas: Frases como “era melhor não estar mais aqui”, “já fiz tudo o que tinha que fazer nesta vida” ou “quero largar tudo” devem ser levadas a sério.
“90% a 98% das pessoas que se suicidam têm um transtorno mental”, alertou o especialista, reforçando a conexão direta entre a doença e os desfechos trágicos.
TRATAMENTOS
A jornada de tratamento começa com a busca de ajuda, seja na rede pública de saúde ou com profissionais particulares, envolvendo geralmente psicoterapia e, quando necessário, o uso de medicamentos. No entanto, o Dr. Luis Felipe explicou que cerca de um terço dos pacientes não responde bem aos tratamentos convencionais, quadro conhecido como depressão resistente.
Para esses casos, a medicina evoluiu com técnicas de neuromodulação, que atuam diretamente no cérebro para reverter o quadro. Duas delas foram destacadas:
- Escetamina Venosa: Trata-se de um anestésico usado em doses muito baixas e controladas, que age rapidamente em uma substância cerebral chamada glutamato, ligada aos casos de depressão resistente e à suicidalidade. “Desde a primeira dose, [a escetamina] já consegue esmaecer o desejo suicida”, explicou o médico, ressaltando sua importância em situações de urgência, já que os antidepressivos comuns podem levar cerca de 21 dias para começar a fazer efeito.
- Eletroconvulsoterapia (ECT): Longe do estigma criado por filmes antigos, a ECT moderna é um procedimento seguro e eficaz, realizado com anestesia geral. Consiste em induzir uma convulsão elétrica controlada que “reseta” a atividade cerebral. “Esse tratamento, padre, tem uma chance de resposta acima de 80% nos casos mais graves em que as medicações não resolveram”, afirmou o Dr. Jardim.
O psiquiatra finalizou a entrevista com um chamado para que a sociedade se mobilize o ano inteiro, e não apenas em setembro, para tornar o debate sobre saúde mental mais aberto e acessível, promovendo uma cultura de cuidado e prevenção.
Confira a entrevista:
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