
A Câmara Municipal de Torres viveu, na segunda-feira (1º/12), um momento histórico. Pela primeira vez em 35 anos, um presidente da Mesa Diretora foi reconduzido ao cargo por unanimidade. Vereador Igor Beretta (MDB), que assumiu a presidência em 2025, recebeu novamente o apoio de todos os vereadores para liderar o Legislativo no ano de 2026. A decisão ocorreu na sessão marcada pelo regimento interno, sempre realizada na primeira reunião de dezembro, e foi construída ao longo do ano após um processo de articulações internas e reavaliações políticas.
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Segundo Igor, em entrevista na Rádio Maristela (02/12), a reeleição só foi possível porque o grupo de vereadores entendeu que o trabalho desenvolvido em 2025 foi pautado pela autonomia do Parlamento e pela garantia de condições igualitárias para a atuação de todos. O vereador explicou que o colega parlamentar Luciano Raupp havia sido o nome previamente acordado para assumir o comando em 2026, mas questões profissionais e de saúde o levaram a renunciar à disputa, abrindo espaço para uma nova composição política.
“Os colegas Antenor Justo Behncker, Rogério Evaldt Jacob, Carlos Alberto da Silva Jacques, José Ricardo Ribeiro Milanez e a vereadora Deise Scheffer Clezar nos procuraram pedindo que permanecêssemos, porque perceberam que a condução vinha sendo independente e sem coação, mesmo eu sendo do partido do prefeito”, disse Beretta.
A unanimidade também indica uma mudança significativa no cenário interno. No primeiro ano de mandato, Beretta registrou seis votos contrários na eleição da Mesa. Ao longo de 2024, porém, parte desses vereadores se aproximou e passou a integrar a base de apoio ao presidente. Ele também citou pressões externas, incluindo a preferência inicial do prefeito de Torres, Delci Dimer, por outro candidato mais alinhado ao Executivo. “A Câmara entendeu que quem decide é o vereador. O Legislativo não é casa de passagem nem anexo do governo”, afirmou.
RELAÇÃO COM O EXECUTIVO
Durante entrevista à Rádio Maristela, Beretta deixou claro que manterá a postura de independência em relação ao Executivo, apesar de ambos serem do MDB. Ele citou tensões envolvendo cargos de confiança, críticas à falta de diálogo e dificuldades administrativas. “O prefeito Delci veio de uma empresa sem concorrência e encontrou um cenário político onde todos dialogam, divergem e cobram. Falta transformar conversa em ação”, avaliou.
O presidente também mencionou problemas na Procuradoria-Geral do Município (PGM), que, segundo ele, não tem conseguido responder à demanda de processos, atrasando eventos e obras. Beretta citou ainda casos de protocolos parados por meses e a necessidade de reorganização interna. “A PGM precisa estar dentro da prefeitura, trabalhando. Não pode ser um setor que vive viajando”, disse, referindo-se às agendas externas do procurador-geral.
Ele adiantou que pretende reunir a bancada e aliados com o prefeito nos próximos dias para “alinhar um segundo ano melhor administrativamente e politicamente”.

ATUAÇÃO EM 2025 E APOIO À APAE
Uma das ações mais elogiadas da gestão foi o apoio da Câmara à APAE de Torres, que enfrentou risco de suspensão de serviços devido à falta de repasses. O Legislativo devolveu R$ 420 mil ao Executivo para garantir o atendimento à instituição, medida elogiada pela direção da entidade. Beretta lembrou que a iniciativa mobilizou comunidade, Ministério Público e Tribunal de Contas.
O presidente reforçou que seguirá a linha de defesa do interesse público, postura que diz inclusive ensinar dentro de casa. “Certo é certo, errado é errado. Isso é inegociável”, relatou, citando uma conversa com o filho.
Beretta enfatizou que a prioridade será garantir autonomia aos parlamentares. “Nenhum vereador pode ser coagido ou chantageado. Nossa obrigação é dar estrutura e liberdade.”
PROJETOS PARA 2026
Entre as metas para o próximo mandato, Igor Beretta destacou:
- Construção de um novo plenário, mais amplo e preparado para receber eventos e audiências públicas, demanda antiga da cidade.
- Abertura maior à imprensa, com espaço permanente para cobertura dentro da Câmara.
- Manutenção do gabinete de portas abertas, marca de sua gestão, permitindo acesso de assessores e comunidade.
- Fortalecimento das viagens e capacitações dos vereadores, com foco na busca de recursos.
- Continuidade da participação da Câmara em eventos comunitários, como Balonismo, Semana Farroupilha e rodeios.
SUCESSÃO MUNICIPAL
Questionado sobre ambições políticas futuras, como disputar a prefeitura, Beretta desconversou, mas admitiu que o tema surge naturalmente. Lembrou ainda o impacto de sua escolha política inicial, em 2020, quando o próprio pai tentou desencorajá-lo.
“A política não é espaço só para quem tem dinheiro. O povo entende isso”, comentou.
Com a recondução inédita, o desafio agora é consolidar um segundo ano de diálogo com o Executivo, fortalecer a independência do Legislativo e preparar a Câmara para entregar avanços estruturais. “O lado do vereador é o lado de Torres. É por isso que seguimos firmes”, concluiu.

