AO VIVO
AO VIVO
AO VIVO
Home » Notícias » Tentativa de abuso no Parque da Guarita reacende alerta à segurança feminina em Torres

Tentativa de abuso no Parque da Guarita reacende alerta à segurança feminina em Torres

por Anderson Weiler
A+A-
Reset

A poucos dias do Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres, celebrado neste sábado (6), uma tentativa de abuso registrada no Parque da Guarita, em Torres, reacende o alerta sobre a vulnerabilidade feminina em espaços públicos. Na manhã de quinta-feira (4), a moradora Raissa Feiten foi atacada enquanto corria no local e só conseguiu escapar porque reagiu e lutou contra o agressor.

>> Siga o canal do Grupo Maristela no WhatsApp.

Raissa contou à reportagem da Rádio Maristela que havia retomado a corrida como parte de um cuidado pessoal em meio a um episódio depressivo. “Correr sempre me fez muito bem. Eu moro perto da Guarita e fui logo cedo, eram pouco depois das seis da manhã”, relatou. Ela disse lembrar de ter visto algumas pessoas no caminho, incluindo um pescador e um homem que acreditou estar acompanhado dele. No início, nada chamou sua atenção.

“Subi os primeiros degraus do morro e achei que ele era só mais alguém ali. Estava com fone de ouvido, que agora vejo que foi um erro. Tirei até uma foto do sol. Quando voltei a correr, senti que ele tinha aumentado o passo, mas não imaginei nada grave”, explicou.

O ataque aconteceu poucos metros adiante. “Ele me agarrou por trás, me jogou no chão e mandou eu ficar quieta, senão ia me matar. Ofereci meu celular, mas entendi na hora que não era isso que ele queria. Quando vi que ele não estava armado, comecei a lutar mesmo”, disse Raissa. Ela mordeu um dos dedos do agressor e desferiu chutes até que ele recuasse. “Acho que ele percebeu que eu não ia desistir. Consegui fugir, corri para outro lado e encontrei um casal e uma família que me ajudaram muito. Eu não conseguia nem falar direito.”

A vítima acredita que só conseguiu se livrar porque pratica artes marciais desde a infância. “Faço isso desde os nove anos. Tenho certeza de que ajudou. Se ele tivesse uma arma, talvez fosse diferente. Mas eu lutei com tudo o que podia”, afirmou.

Para a professora de defesa pessoal e lutadora de Jiu-Jitsu Rafaela Zanini, o caso reforça que a segurança começa antes do combate físico. “A defesa pessoal começa muito antes do contato. A primeira etapa é consciência e postura. Evitar distração com dois fones de ouvido, observar quem está perto, identificar saídas, escolher caminhos com mais fluxo de pessoas. Isso reduz drasticamente as chances de ser alvo”, explica.

Rafaela lembra que, embora as técnicas de defesa sejam importantes, a prevenção é essencial. “Infelizmente, algumas situações aumentam nossa vulnerabilidade. Caminhar sozinha de madrugada, mexer no celular ao abrir o carro, correr em áreas isoladas. Sempre que possível, prefira companhia e mantenha um ouvido livre. E claro, buscar aulas com profissionais qualificados fortalece o corpo e a mente, promove autocontrole e estratégia.”

O episódio ganhou grande repercussão na cidade e gerou debates nas redes sociais sobre segurança no Parque da Guarita, especialmente durante as primeiras horas da manhã, quando há menor movimento. Para entidades que atuam na defesa das mulheres, casos assim reforçam que o combate à violência de gênero não pode ser responsabilidade apenas das vítimas.

Com a mobilização nacional deste sábado, o tema volta ao centro da pauta. Instituições de segurança, movimentos sociais e grupos de homens engajados têm feito campanhas para incentivar atitudes de respeito, acolhimento e enfrentamento ativo à violência contra as mulheres. Especialistas reforçam que conscientizar os homens é fundamental para reduzir agressões e responsabilizar autores.

Enquanto isso, Raissa tenta processar o que viveu e envia um recado às mulheres. “Eu só pensava que precisava sair viva dali. A gente nunca acha que vai acontecer com a gente. Se eu conseguir ajudar outra pessoa contando minha história, já vale. A gente precisa se cuidar e precisa de mais segurança. É um medo que não deveríamos carregar.”

Fotos: Nicole Correa/Rádio Maristela