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Rádio Maristela, 68 anos, uma história contada por vozes que atravessam gerações

por Melissa Maciel
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Do rádio a pilha à internet, a emissora que nasceu na fé, cresceu com a comunidade e segue presente na vida de ouvintes do Litoral Norte gaúcho e do Sul catarinense.

Há sons que não envelhecem. O estalo inicial do botão giratório, o chiado leve antes da sintonia perfeita, a voz que preenche a casa do início da manhã ao fim de tarde. O rádio sempre chegou antes da televisão, antes da internet, antes mesmo da pressa dos tempos atuais. Em Torres, no Litoral Norte gaúcho, ele chegou como companhia, como notícia, como oração. Chegou como Rádio Maristela.

Naquele 31 de dezembro de 1957, quando o dia se despedia do ano e a expectativa pela festa da virada começava a tomar conta das ruas, uma transmissão experimental marcava o início de uma história destinada a atravessar gerações. Às 18 horas, o programa Ave Maria foi ao ar pela primeira vez. Não era apenas um programa religioso. Era um sinal. Um convite à escuta. Um compromisso com a comunidade que, 68 anos depois, permanece vivo.

Hoje, em 31 de dezembro de 2025, a Rádio Maristela 106.1 FM celebra 68 anos no ar. Uma trajetória que se confunde com a própria história de Torres, do Litoral Norte do Rio Grande do Sul e do Sul de Santa Catarina, alcançando mais de 40 municípios, do rádio a pilha à transmissão digital, do AM ao FM, da sala de estar ao celular na palma da mão.

FÉ, VISÃO E PIONEIRISMO

A história da Rádio Maristela nasce vinculada à Igreja Católica, quando Torres ainda integrava a Diocese de Caxias do Sul. Foi idealizada pelo então bispo dom Benedito Zorzi, homem de visão e espírito empreendedor, que compreendeu, ainda na metade do século passado, o poder transformador da comunicação.

Testemunha ocular da fundação, o padre Alcindo Trubian, ex-gestor da emissora, relembra esse início com emoção e lucidez histórica. “Dom Benedito Zorzi tinha espírito de empreendimento e visão de futuro. Ele se preocupou em pedir ao governo federal uma rádio para o Santuário de Caravaggio, em Farroupilha/RS, e outra para a região de Torres. A rádio surgiu para levar a Palavra de Deus e informação às pessoas, e continua atual até hoje”, afirma.

Naquele tempo, Torres era outra cidade. Menor, mais distante, com menos acesso à informação. O rádio preenchia vazios, aproximava comunidades e levava a voz da Igreja e da sociedade para dentro das casas. “A história é a mestra da vida”, resume o padre Alcindo, ao lembrar que, apesar do surgimento da televisão, da internet e das novas mídias, o rádio permanece atual. “Hoje posso escutar a Rádio Maristela em qualquer lugar do mundo pelo telefone. Isso é prova da sua força.”

DO CHIADO DO AM À CLAREZA DO FM

Informação responsável, diversidade de conteúdos e presença cotidiana que consolidam a Maristela como referência regional em comunicação

Ao longo das décadas, a Rádio Maristela, acompanhou, e muitas vezes antecipou, as transformações tecnológicas. Viveu a era do AM, atravessou mudanças de equipamentos, estilos de locução e formatos de programação, até a migração para o FM, consolidando-se no dial 106.1.

A modernização também se materializou fisicamente. Em 2016, a emissora inaugurou sua nova sede, no Centro de Torres, um espaço que simboliza a união entre tradição e inovação. Já em 2024, passou a integrar oficialmente o Grupo Maristela, ao lado da Rádio Itapuí 100.3 FM, de Santo Antônio da Patrulha, e do Jornal do Mar, ampliando sua presença multiplataforma.

Para o bispo da Diocese de Osório e presidente do Grupo Maristela, dom Jaime Pedro Kohl, a rádio sempre foi mais do que um veículo de comunicação. “A Rádio Maristela sempre esteve presente na vida das pessoas, informando, evangelizando e contribuindo para o crescimento humano, social e econômico das comunidades. Celebrar esses 68 anos é reconhecer a dedicação de todos que fizeram e fazem parte dessa história.”

Há 25 anos, a emissora passou a integrar a Diocese de Osório, mantendo sua identidade católica e sua missão de serviço. Uma missão que se traduz em jornalismo responsável, programação plural e proximidade com as pessoas.

VOZES QUE CONSTROEM PERTENCIMENTO

A força da Rádio Maristela não está apenas em sua estrutura ou alcance técnico, mas nas relações que construiu ao longo do tempo. Relações de confiança, afeto e pertencimento.

Maria Evaldt Raupp, de 86 anos, moradora de Dom Pedro de Alcântara, era jovem quando a rádio entrou no ar. Desde então, nunca deixou de acompanhar a programação. “Eu acompanho desde que surgiu a rádio. Gosto muito. O que mais gosto é quando tem Missa, as orações da Ave Maria e as duplas sertanejas”, conta. Entre as lembranças afetivas, estão os locutores que marcaram sua juventude, como Loirinho, Pedro Elias e Osvaldir Cardoso. “Tenho muitas boas lembranças da Rádio Maristela.”

Do interior de Mampituba, na localidade da Roça da Estância, a agricultora Clarisse Pereira dos Santos lembra o papel do rádio como companhia diária. “Escuto a Maristela desde muito pequena, na casa dos meus avós. Aonde eu vou, meu radinho me acompanha.” Para ela, a emissora cumpre um propósito claro, interagir com os ouvintes, levar música, notícia em tempo real e a previsão do tempo, essencial para quem vive da agricultura. Ela recorda a visita à rádio após o nascimento do filho Thales, em 2018, quando recebeu um rosário do diretor e comunicador na emissora, padre Leonir Alves. “A rádio é muito bem representada. Além de grandes locutores, são grandes amigos.”

JORNALISMO LOCAL QUE FAZ A DIFERENÇA

Em um cenário de excesso de informação e superficialidade, a Rádio Maristela consolidou-se como referência em jornalismo local. Para o empresário Rafael Herzog, de Torres, ouvinte há mais de 15 anos, a escolha pela emissora foi também uma decisão de valorização da cidade. “Eu pensava: que adianta ouvir uma rádio estadual se não estou prestigiando a minha cidade?”, relata. Desde então, acompanhou melhorias de sinal, expansão da cobertura e fortalecimento do conteúdo jornalístico. “Hoje a rádio traz entretenimento e muita notícia. É uma vitrine real, inclusive para quem é anunciante.”

O diretor padre Leonir, reforça esse papel. “A Rádio Maristela é um patrimônio da região. Com jornalismo de qualidade, programação variada e compromisso com a verdade, ela se tornou uma ponte entre as pessoas e as informações que transformam vidas.”

COMPANHEIRA DE ESTRADA, DE TRABALHO E DE FÉ

Para quem vive na estrada, o rádio é mais do que som: é presença. Cesar Lopes, morador de Arroio do Sal e empresário do ramo de fiação, percorre cerca de 1.500 quilômetros por semana pelo Litoral Norte gaúcho. “A companhia da Maristela no carro é muito importante. Ela aproxima a gente, nos torna mais humanos”, afirma. Católico, encontrou na rádio identificação imediata. “Depois que sintonizei a Maristela, parei de trocar tanto de estação. É uma rádio que te torna mais do que um número.”

Do Sul catarinense, em Passo de Torres, a assistente administrativa Rafaela do Amaral Jardim resume de forma simples e direta: “A minha companhia diária é a rádio.” Sozinha no trabalho, liga a Maristela às 8h da manhã e só desliga ao final do expediente. Informação, música e interação que atravessam a rotina de trabalho.

A RÁDIO QUE SE REINVENTA

Nos últimos anos, a Rádio Maristela expandiu sua atuação para além do estúdio principal. O Verão Maristela Garden, realizado à beira-mar de Torres, tornou-se um dos projetos mais emblemáticos da emissora. Em sua 9ª edição consecutiva, o lounge instalado na Praça Claudino Nunes Pereira, em frente à Praia Grande, leva programação ao vivo, entrevistas, música e convivência para moradores e turistas.

UMA HISTÓRIA QUE CONTINUA

Do rádio a pilha à internet, do AM ao FM, da oração ao hard news, a Rádio Maristela atravessou 68 anos sem perder sua essência. Continua vinculada à Igreja Católica, comprometida com a verdade, com a evangelização e com o desenvolvimento regional. Continua sendo companhia, serviço e voz.

Em um mundo que muda em ritmo acelerado, a Maristela permanece como ponto de referência. Uma emissora que não apenas transmite, mas escuta. Que não apenas informa, mas conecta. Que não apenas celebra o passado, mas projeta o futuro.

Porque enquanto houver alguém girando o botão, abrindo o aplicativo ou buscando uma voz amiga no dial, a Rádio Maristela seguirá no ar, fiel à sua missão, próxima das pessoas, fazendo história todos os dias.