
O artigo assinado pelo bispo da Diocese de Osório, dom Jaime Pedro Kohl, por ocasião do Dia Mundial da Paz, celebrado em 1º de janeiro, propõe uma reflexão direta sobre a fraternidade universal como eixo central para a construção da paz. Partindo da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, o texto contextualiza a data como um chamado à reconciliação já realizada em Jesus Cristo, mas ainda não plenamente acolhida pela humanidade. O bispo destaca que, apesar dos avanços tecnológicos e da facilidade de comunicação, permanece o desafio estrutural de transformar a mensagem cristã de irmandade em prática concreta, superando resistências, interesses de poder e a lógica da violência.
Ao abordar os obstáculos à paz, dom Jaime contrapõe a atitude de abertura e acolhida ao projeto de Deus, representada por Maria, José, os pastores e os Reis Magos, à postura de líderes e sistemas marcados pela prepotência e pela guerra. O artigo reforça que a paz defendida pela Igreja não é apenas ausência de conflitos, mas a “paz de Cristo ressuscitado”, definida como desarmada, desarmante, humilde e perseverante, conforme a mensagem do Papa. A reflexão conclui com uma invocação a Maria, Mãe de Deus, para que interceda pela humanidade neste início de ano, reafirmando a paz como compromisso espiritual, social e ético.
Leia a íntegra:
Dia Mundial da Paz
Dia 1º de janeiro, Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, Dia Mundial da Paz e da Fraternidade Universal. Quão bom seria iniciar um novo ano sem nenhuma morte violenta, com um abraço universal a todas as pessoas e povos espalhados pelo mundo. Seria um sinal do “novo céu e da nova terra” profetizados por Isaías 66,22.
Na verdade, a reconciliação já se deu pela ação salvadora de Jesus: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, para resgatar o que era sujeito à Lei. E todos recebemos a dignidade de filhos. E a prova é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: ‘Abba! Pai!’” (Gl 4,4ss).
A humanidade, depois de mais de dois mil anos de cristianismo, ainda não entendeu e não aceitou essa irmandade universal. Se precisarmos esperar que a efetiva comunhão batismal aconteça, teremos que trabalhar bastante e intensamente. Provavelmente, esperar mais alguns milhões de anos. Por outro lado, com os meios que temos hoje à disposição, em poucas horas a mensagem/convite poderia chegar a todos os homens e mulheres da Terra.
Fosse apenas fazer chegar a notícia, seria fácil; mas, se não houver disposição para aceitá-la como verdadeira e salvadora, as coisas se complicam. Se as pessoas fossem todas como Maria e José, como os Reis Magos ou como os pastores que ouviram a Palavra e leram os Sinais, certamente chegaríamos rapidamente à acolhida e à adesão à proposta salvadora de Deus, que se faz criança para fazer de nós filhos e filhas amados do único Pai.
O problema é que os Herodes da vida são muitos e, interessados aparentemente em conhecer, agem com planos sombrios porque se sentem ameaçados em seus objetivos de poder e prepotência; inescrupulosos e egoístas, são capazes de declarar guerra e atacar gente inocente e indefesa, pessoas que nem sequer pensam em fazer mal a uma mosca.
A paz que desejamos a todos neste Dia Mundial da Paz é essa que o Papa Leão propôs na sua primeira bênção: “A paz esteja com todos vós! Esta é a primeira saudação de Cristo ressuscitado, o bom pastor que deu a vida pelo rebanho de Deus. Também eu gostaria que esta saudação de paz entrasse no vosso coração, chegasse às vossas famílias, a todas as pessoas, onde quer que se encontrem, a todos os povos e a toda a terra. A paz esteja convosco! Esta é a paz de Cristo ressuscitado, uma paz desarmada e desarmante, que é humilde e perseverante. Que vem de Deus, do Deus que nos ama a todos incondicionalmente”.
Pedimos a Santa Maria, Mãe de Deus, que interceda junto ao seu Filho Jesus, Príncipe da Paz, esse presente para a humanidade neste início do novo ano.
+ Dom Jaime Pedro Kohl, bispo de Osório
Fonte: Ascom Diocese de Osório / Melissa Maciel

