Como ser Igreja sinodal missionária? Esta é a pergunta básica da qual parte o Instrumentum laboris (IL) da próxima sessão do Sínodo dos Bispos, programada de 2 a 27 de outubro, a segunda da XVI Assembleia Geral Ordinária, depois da de 2023. O IL – publicado nesta terça-feira, 9 de julho, e apresentado na Sala de Imprensa da Santa Sé – não oferece nenhuma “resposta pré-fabricada”, mas sim “indicações e propostas” sobre como a Igreja, como um todo, pode responder “à necessidade de ser ‘sinodal em missão’”, ou seja, uma Igreja mais próxima das pessoas, menos burocrática, que seja casa e família de Deus, na qual todos os batizados sejam corresponsáveis e participem de sua vida na distinção de seus diferentes ministérios e papéis.
As cinco partes do documento
O documento está estruturado em cinco seções: introdução, fundamentos e três partes centrais. A introdução relembra o caminho percorrido até agora e destaca as metas já alcançadas, como o uso generalizado da metodologia sinodal da Conversação do Espírito. Seguem-se os fundamentos (n. 1-18), que se concentram na compreensão da sinodalidade, vista como um caminho de conversão e de reforma. Em um mundo marcado por divisões e conflitos, enfatiza-se, a Igreja é chamada a ser sinal de unidade, instrumento de reconciliação e de escuta para todos, especialmente para os pobres, os marginalizados e as minorias afastadas do poder.
Valorização das mulheres na Igreja
Os Fundamentos também dão amplo espaço (n.13-18) à reflexão sobre o papel das mulheres em todas as áreas da vida da Igreja, destacando “a necessidade de dar um reconhecimento mais pleno” aos seus carismas e vocação. “Deus escolheu certas mulheres para serem as primeiras testemunhas e anunciadoras da ressurreição”, lembra o IL; elas, portanto, “em virtude do Batismo, estão em uma condição de plena igualdade, recebem a mesma efusão de dons do Espírito e são chamadas ao serviço da missão de Cristo”.
Participação e responsabilidade
Em algumas culturas, de acordo com o IL, “a presença do machismo permanece forte”; por essa razão, a segunda sessão sinodal pede “uma participação mais ampla das mulheres nos processos de discernimento eclesial e em todas as fases dos processos de tomada de decisão”, juntamente com “um acesso mais amplo a posições de responsabilidade nas dioceses e instituições eclesiásticas”, bem como em seminários, institutos, faculdades de teologia e “no papel de juíza em processos canônicos”. As sugestões também dizem respeito às mulheres consagradas, para as quais se espera “maior reconhecimento e apoio mais decisivo” para sua vida e seus carismas, juntamente com “seu emprego em posições de responsabilidade”.
Reflexão sobre o diaconato feminino continua
Quanto à admissão de mulheres ao ministério diaconal, o IL relata que ela é solicitada por “algumas Igrejas locais”, enquanto outras “reiteram sua oposição” (n. 17). O assunto, ressalta-se, “não será objeto dos trabalhos” em outubro próximo e, portanto, é bom que “a reflexão teológica continue”. Em todo caso, a reflexão sobre o papel da mulher “evidencia o desejo de um fortalecimento de todos os ministérios exercidos pelos leigos”, para os quais se pede que “adequadamente formados, possam contribuir também para a pregação da Palavra de Deus, inclusive durante a celebração da Eucaristia” (n. 18).
Parte I – Relações com Deus, entre irmãos e entre as Igrejas
Após a introdução e os fundamentos, o IL se detém nas relações (n. 22-50) que permitem que a Igreja seja sinodal na missão, ou seja, as relações com Deus Pai, entre irmãos e irmãs e entre as Igrejas. Os carismas, ministérios e ministérios ordenados são, portanto, essenciais em um mundo e para um mundo que, em meio a tantas contradições, está em busca de justiça, paz e esperança. Das Igrejas locais, emerge também a voz dos jovens que clamam por uma Igreja não de estruturas, nem de burocracia, mas fundada em relações que suscitam e vivem em dinâmicas e caminhos. Nessa perspectiva, a Assembleia de outubro poderá analisar a proposta de dar vida a novos ministérios, como o da “escuta e do acompanhamento”.
Parte II – Percursos formativos e discernimento comunitário
Essas relações devem, então, ser desenvolvidas de maneira cristã ao longo de percursos (n. 51-79) de formação e de “discernimento comunitário”, o que permite que as Igrejas tomem decisões apropriadas, articulando a responsabilidade e a participação de todos. “O entrelaçamento de gerações é uma escola de sinodalidade”, afirma o IL. “Todos, os fracos e os fortes, as crianças, os jovens e os idosos, têm muito a receber e muito a dar” (n. 55).
A importância da prestação de contas
Mas entre os percursos a serem seguidos também estão os que permitem que aqueles com responsabilidades eclesiais sejam transparentemente responsáveis por suas ações para o bem e a missão da Igreja. “Uma Igreja sinodal precisa de uma cultura e prática de transparência e prestação de contas (accountability) – diz o IL – que são indispensáveis para promover a confiança mútua necessária para caminhar juntos e exercer a corresponsabilidade pela missão comum” (n. 73). O documento de trabalho enfatiza que hoje “a demanda por transparência e prestação de contas na e pela Igreja surgiu como resultado da perda de credibilidade devido a escândalos financeiros e, sobretudo, abusos sexuais e outros abusos contra menores e pessoas vulneráveis. A falta de transparência e prestação de contas, de fato, alimenta o clericalismo” (nº 75).
São necessárias estruturas de avaliação
A prestação de contas e a transparência, insiste o IL, também afetam “os planos pastorais, os métodos de evangelização e as maneiras pelas quais a Igreja respeita a dignidade da pessoa humana, por exemplo, no que diz respeito às condições de trabalho em suas instituições” (n. 76). Daí, o pedido de “estruturas necessárias e formas de avaliação do modo como são exercidas as responsabilidades ministeriais de todos os tipos” (n. 77). A Igreja deve garantir, explica o IL, a publicação de um relatório anual sobre a gestão dos bens e dos recursos e sobre o desempenho da missão, inclusive “em matéria de salvaguarda (proteção dos menores e das pessoas vulneráveis)” (n. 79).
Parte III – Os lugares do diálogo ecumênico e inter-religioso
O IL analisa, em seguida, os lugares (n. 80-108) onde as relações e os percursos tomam forma. Lugares que devem ser entendidos como contextos concretos, caracterizados por culturas e dinamismos da condição humana. Convidando a superar uma visão estática das experiências eclesiais, o documento de trabalho reconhece a sua pluralidade, que permite à Igreja – una e universal – viver em uma circularidade dinâmica “nos lugares e a partir dos lugares”. E é nesse horizonte que se inserem os grandes temas do diálogo ecumênico, inter-religioso e com as culturas. Nesse contexto, insere-se também a busca de formas de exercício do ministério petrino abertas à “nova situação” do caminho ecumênico (n. 102 e 107).
Peregrinos da esperança
Em seguida, o Instrumentum laboris conclui-se com um convite para prosseguir o caminho como “peregrinos da esperança”, também na perspectiva do Jubileu de 2025 (nº 112).
Fonte: CNBB
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