
Moradores do Bairro São Jorge, em Torres, realizam neste sábado (20), às 18h, uma manifestação pública contra a decisão do governo municipal de transferir a Casa de Passagem para pessoas em situação de rua, atualmente localizada na Praia da Cal, para a comunidade. O ato ocorre na Estrada do Mar, no ponto onde está prevista a instalação do serviço, no antigo prédio do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), esquina com a Rua Santa Maria.
>> Siga o canal do Grupo Maristela no WhatsApp.
A manifestação é organizada pela própria comunidade e tem como foco pressionar o poder público a reavaliar a escolha do local. Este será o terceiro endereço cogitado para a Casa de Passagem no município. As duas tentativas anteriores, uma no Bairro Stan, na divisa com o Centro, e outra na Praia da Cal, foram descartadas após forte reação dos moradores, levando a Prefeitura a repensar o local. Atualmente a Casa segue em funcionamento, por decisão judicial, na Praia da Cal.
O QUE PENSAM OS MORADORES
Entre os moradores do Bairro São Jorge, o sentimento predominante é de insegurança e ausência de consulta prévia. A moradora Janice Andreia de Oliveira Quadros, residente há cinco anos no Bairro São Jorge, manifestou posicionamento contrário à instalação da Casa de Passagem no local, alegando insegurança para famílias, idosos e crianças. Segundo ela, a proximidade do imóvel com residências, comércio e parada de ônibus escolar amplia o temor da comunidade, especialmente diante de relatos de ocorrências de violência associados a pessoas em situação de rua em outros pontos da cidade. Janice afirmou ainda que não houve consulta prévia aos moradores e confirmou que está mobilizando a comunidade para a manifestação deste sábado, defendendo que o serviço seja implantado em um local afastado da área residencial.
Outro morador, Moacir Flores Lopes, diz que a mobilização é pacífica e busca uma alternativa mais adequada. “Nada contra a existência da Casa de Passagem, pelo contrário. Mas entendemos que o poder público deveria buscar um local mais afastado da comunidade, que não coloque em risco nem os moradores nem as próprias pessoas vulneráveis que serão atendidas. Aqui é a entrada do bairro, com escolas, creches e circulação intensa de crianças”, destacou.
Dionatan Menezes, residente no Bairro, também expressou preocupação com a segurança. “O nosso medo é real. Temos paradas de ônibus escolar próximas, mães que passam diariamente com seus filhos, e já vimos episódios de violência envolvendo pessoas em situação de rua na cidade. O Bairro São Jorge levou anos para conquistar tranquilidade e não aceita voltar a conviver com insegurança”, declarou.
ESCLARECIMENTOS
O prefeito de Torres, Delci Dimer, esclareceu em recente entrevista à Rádio Maristela, que o funcionamento da Casa de Passagem não é uma escolha administrativa, mas o cumprimento de uma decisão judicial. Segundo ele, a obrigação decorre de uma ação ajuizada em 2020 pela Defensoria Pública. “O município é obrigado a manter o serviço por determinação judicial. Estamos estudando o local mais adequado para sua instalação, buscando atender à decisão e minimizar impactos”, explicou. O prefeito também ressaltou que a execução do serviço ocorre por meio de contrato com uma Organização da Sociedade Civil (OSC).
O coordenador da Casa de Passagem, o psicólogo Felipe Garrai, explica que o processo vem sendo discutido com diferentes setores da sociedade. “Já realizamos reuniões com participação de vereadores, representantes da União das Associações de Bairro e outros atores. Inclusive, foi criado um comitê com representantes da sociedade civil. A recusa ao serviço muitas vezes ocorre quando ele é confundido com outras práticas que não fazem parte da proposta.”.
O presidente da Câmara de Vereadores de Torres, Igor Bereta, que também reside no Bairro São Jorge, criticou a condução do diálogo com o Legislativo e saiu em defesa da comunidade. “A Câmara foi convidada para a reunião que definiu o novo local de um dia para o outro, sem clareza da pauta. Eu estava em curso, outros vereadores também. Mandamos um representante, mas não houve qualquer indicação formal de que o local seria o Bairro São Jorge. Não concordamos com a escolha”, afirmou. O vereador Igor ressaltou que o problema não é o serviço, mas o endereço. “Se não deu certo no Centro e na Praia da Cal, por que daria no São Jorge? Sempre defendemos um local sem vizinhança direta, com espaço para trabalho, capacitação e ressocialização. O que vemos aqui é, mais uma vez, o bairro sendo tratado com preconceito.”
Foto: Igor Lins/Grupo Maristela






























