A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma diretriz na qual pede fortemente que a hidroxicloroquina não seja usada como tratamento preventivo da Covid-19. O documento foi divulgado na última segunda-feira, 1° de março, na revista científica “The BMJ”.
- A recomendação é feita por um painel de especialistas internacionais do Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes da OMS (GDG). Desde julho do ano passado, a organização informa que não tem encontrado benefícios no uso do antimalárico contra o coronavírus. Desta vez, a conclusão passa a ser uma orientação concreta e oficial para os países e profissionais de saúde.
Esta forte recomendação é baseada em seis estudos clínicos com evidências de alto nível. Juntos, eles somaram mais de 6 mil participantes e confirmaram que o medicamento não é eficiente na prevenção contra a doença.
Além disso:
- Evidências de alta certeza (que dificilmente mudarão com a publicação de novos estudos) apontam que a hidroxicloroquina não tem efeito significativo na prevenção de hospitalização e morte devido à Covid-19;
- O antimalárico também não teve efeito em evitar a infecção pelo Sars CoV-2, com evidências classificadas como moderadas (estudos clínicos com leves limitações e estudos observacionais bem delineados e com achados consistentes).
“Neste caso, a hidroxicloroquina não teve nenhuma melhora nem nos pacientes leves a moderados, nem nos hospitalizados. E ela aumentou, provavelmente, os efeitos adversos, que levaram inclusive à descontinuação” – Ethel Maciel, pós-doutora em epidemiologia.
A OMS também pede que as pesquisas com a hidroxicloroquina como prescrição para a Covid-19 não sejam prioridade. O painel avalia que é importante concentrar esforços financeiros em medicamentos com mais chance de combater o coronavírus.
No Brasil, o medicamento chegou a ser recomendado como um dos integrantes do ‘Kit Covid’, voltado ao suposto “tratamento precoce” da doença. O presidente Jair Bolsonaro costuma defender o uso da hidroxicloroquina, mesmo sem comprovação científica contra a Covid-19. O governo federal também adquiriu e distribuiu a medicação a estados e municípios. Em janeiro, o Ministério da Saúde lançou um aplicativo que recomendava o uso do medicamento. Ele saiu do ar dias depois.
A droga também foi prescrita por médicos brasileiros apesar de estudos científicos não apontarem benefícios e alertarem para riscos associados ao uso. Um levantamento do Conselho Federal de Farmácia mostrou que a venda do antimalárico nas farmácias mais que dobrou, passando de 963 mil em 2019 para 2 milhões de unidades em 2020.
Linha do tempo da OMS x hidroxicloroquina
- 27 de março de 2020: OMS inicia pesquisa com 50 países sobre a eficácia de 4 medicamentos contra o coronavírus, incluindo a cloroquina e a hidroxicloroquina;
- 8 de abril de 2020: procurada pelo G1, a OMS diz que 74 países estão fazendo testes com a hidroxicloroquina;
- 19 de maio de 2020: ‘Não há evidências para recomendar cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid-19’, diz diretor da Opas, braço da OMS na América Latina;
- 20 de maio de 2020: OMS diz que cloroquina pode causar efeitos colaterais e não tem eficácia comprovada no tratamento da Covid-19;
- 25 de maio de 2020: OMS anuncia a suspensão de testes com a hidroxicloroquina em pesquisas que ela coordenava com cientistas de 100 países;
- 3 de junho de 2020: OMS anuncia que vai retomar testes com hidroxicloroquina para Covid-19;
- 17 de junho de 2020: OMS suspende pela segunda vez testes com hidroxicloroquina contra a Covid-19;
- 10 de julho de 2020: ‘Não conseguimos demonstrar um benefício claro’, diz OMS sobre o uso da cloroquina;
- 15 de outubro de 2020: estudo liderado pela OMS afirma ineficácia de 4 antivirais contra a Covid-19 – incluindo a hidroxicloroquina.
Fonte: G1, com informações da Organização Mundial de Saúde (OMS)